quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Nairóbi (Quênia) - Dog days are over

Nos últimos dias eu tive tanto assunto pra escrever no blog sobre trabalho que acabei não contando mais como tem sido a vivência na casa e na cidade. 
Pra ir pro trabalho aqui nós temos que pegar 2 matatus ("van" daqui) e ontem quando descemos do primeiro e estávamos a caminho de pegar o segundo, Valéria sentiu uma coisa nas suas costas e quando puxou a mochila, alguém tinha rasgado-a com uma navalha pra tentar roubar o que tinha dentro. Não aconteceu nada, não machucaram ela e não roubaram nada, mas ela viu o cara com a navalha na mão e ficou muito nervosa. Antes que alguém me diga que não se pode andar com a mochila nas costas, eu nem ando com mochila aqui, rs.
Fora o susto de ontem, o dia-a-dia na cidade já não assusta mais. É incrível como nos habituamos rápido as coisas. Eu já nem reparo mais que todo mundo me olha 24h por dia devido ao fato de pessoas brancas serem espécie rara por aqui. 

A única coisa que eu não consigo me habituar é com a miséria da favela. 
Hoje nós voltamos a escola de segunda pra dar a segunda aula que as meninas tinham pedido sobre cultura e na hora que eu mostrei pras meninas na classe as fotos do Brasil, elas amaram as fotos das paisagens e também a foto da favela, disseram que parecia ótimo. Eu sei que tem lugares no Brasil que são como aqui, mas realmente as favelas da zona sul do Rio (que são as que eu já fui, por isso são as que posso falar com certeza) são bem melhores do que as daqui. Cantagalo, Pavão Pavãozinho, Vidigal e Rocinha, por exemplo, são favelas em que as casas tem tijolos, tem energia (inclusive pra televisão) e água! Parece pouco comparando com outras partes do Rio, mas me parece muito digno comparando com as favelas daqui. Parei pra pensar nisso hoje enquanto as crianças homenageavam as casas da favela do Rio e me dei conta de que os lugares que eu conheço do Rio tem pobreza, mas os lugares que eu conheço daqui tem miséria. Talvez eu precise conhecer melhor o Rio, ou talvez aqui seja mesmo mais pobre, ou talvez as duas opções juntas. 

No mais a aula foi ótima, as meninas ficaram felizes de nos rever lá. Nós explicamos coisas sobre cultura, colonização, mostramos o mapa do mundo (que algumas nunca tinham visto) e coletamos perguntas que elas tinham sobre a última aula de segunda (sobre puberdade, DSTs, gravidez, etc). Pedimos pra que cada uma escrevesse num pedaço de papel as dúvidas que tinham sobre esses assuntos pra podermos responder na próxima aula. Surgiram perguntas muito interessantes, como "se eu pentear o cabelo com o mesmo pente de uma amiga que tem HIV, eu pego?", "porque os meninos não ficam grávidos?", "como faço pra não sujar minhas roupas quando fico menstruada?", etc.
Estar com elas e ensinar passa uma sensação de que o dia valeu a pena. 

Pra terminar o post com uma boa notícia quero dizer que os primeiros 50 reais foram depositados na minha conta para o projeto "Water for kids in Kibera"! Não sei quem foi a pessoa que depositou, mas quero agradecer de coração a você e as pessoas que vem ajudando a ideia a se espalhar. 
Pra quem não sabe de qual projeto estou falando, aqui está o link do post de ontem onde expliquei toda a ideia.

Lala Salama (boa noite em swahili)! Nos vemos amanhã!

2 comentários:

  1. Quanta curiosidade! Vcs só trabalham com grupinhos de meninas? Ou será que é porque as escolas estão separadas? E como elas perguntam... em inglês?? Ou vcs tem alguém traduzindo swahili sempre?

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    1. Eu e a Valéria trabalhamos com o grupo de meninas e o Martin (voluntário da Argentina) trabalha com o grupo dos meninos. Achamos que eles ficariam mais a vontade pra fazer perguntas se estivessem separados desse modo. E essas meninas que já são maiores (entre 8 e 14 anos) já falam inglês e super bem até. As vezes só é um pouco difícil entender por causa dos sotaque, mas estamos nos acostumando aos poucos :)

      Beijão, tia!

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